Piteco, o protetor dos animais

Em 1965 Mauricio de Sousa lançou uma coleção de três livros infantis pela Editora FTD (como descrito aqui). Um deles foi chamado simplesmente com o nome do homem pré-histórico criado pelo Pai da Mônica: Piteco. O livro trazia uma história desse personagem e outra com o Penadinho e sua turma. A aventura do Piteco é bem interessante porque mostra a preocupação do Mauricio em passar para as crianças uma mensagem a favor de uma alimentação mais vegetariana.

Na história, os moradores da aldeia do Piteco sofrem com a escassez de carne, e ele promete caçar dinossauros para todos. Em sua busca, Piteco acaba salvando um dinossauro e os dois se tornam amigos. Sem coragem para matar o bicho, Piteco consegue incentivar, em sua aldeia, o consumo de frutos no lugar de carne. Já nos anos 60, Mauricio levantava questões que hoje em dia estão em pauta.

A aventura que encerra o livro foi chamada de Penadinho Contra o Caçador de Cabeças. Ela começa com uma apresentação da turma do além, que “mora num cemiteriozinho lá nos arredores da cidade”. Depois das apresentações, Penadinho descobre que Cranícola, que era um “crâneo” (um gênio, segundo a gíria da época), está apavorado porque chegou ao cemitério o fantasma de um caçador de cabeças. E, por motivos óbvios, Cranícola estava ‘morrendo’ de medo! Mas, na realidade, tudo não passou de um grande mal-entendido. Ops, isso foi um spoiler! :-)


De acordo com o expediente publicado na segunda página, o livro foi realizado nos estúdios de Mauricio de Sousa Produções, e informa que o copyright é de Mauricio Araujo de Sousa. O crédito para os artistas era o seguinte: Criações de Mauricio. Arte Final de Paulo Wamazaki. Cores de Joel Link e Alberto (Dudu) Djinishian. Os colaboradores foram Márcio Roberto, Sergio Cantara e José Aparecido.

Era um belo livro. Raríssimo, hoje em dia.

Acima, páginas da história do Piteco. Abaixo, frontispício do livro (clique nas imagens para ampliá-las)

Mônica cinquentona


Há cinquenta e três anos, Mônica deu a primeira coelhada em Cebolinha e conquistou o Brasil.

(Parecido com o que aconteceu em Thimble Theatre, que era uma tira de Segar desde 1919, mas no dia 17 de janeiro de 1929 surgiu um marinheiro figurante que tomou conta do recado. Transformou-se num dos maiores personagens dos Comics: Popeye!)

Na tirinha do Bidu publicada na Folha de S.Paulo, no dia histórico de 3 de março de 1963, Cebolinha trombou com  a personagem Mônica e mudou a história da história em quadrinhos no Brasil (clique na imagem grande do alto para ver essa tira histórica desenhada pelo Mauricio de Sousa).

Até então, embora sempre tivessem apoiado personagens brasileiros sem sucesso nas revistas e jornais, os editores alegavam que os leitores só aceitavam heróis estrangeiros. Mas a Folha deu apoio a um repórter policial do diário que sonhava fazer quadrinhos. E assim, apareceu em 1959, uma tirinha com o cachorrinho Bidu e seu dono, Franjinha.

Mauricio de Sousa sabia que um só verão não faz andorinha (ou uma só andorinha não faz verão?) e tratou de negociar com o jornal para ceder os caríssimos clichês de suas tiras, e viajou para as cercanias da região fornecendo tiras já em português e clichês em metal, aos jornais locais. Era um material que não necessitava de tradução, tampouco de refazer as letrinhas: já vinha pronto do forno.

monicafotontDesde sempre as suas criações eram baseadas na sua infância. O cachorrinho, o amigo que falava errado, o que não tomava banho e outros. Quando se tornou pai, precisava de mais dinheiro e criou Mônica à imagem e semelhança de sua filha. Inclusive com o coelhinho azul inseparável.

Então, tudo mudou no mundo dos quadrinhos brasileiros. Victor Civita, em 1970, acreditou e investiu num título, Mônica e sua Turma. A revista da Abril foi quase toda escrita e desenhada por Maurício, num esforço incomum. Existem reedições da sua atual Editora Panini que atestam a qualidade inicial do feito. Belo texto e traços originais e mais pessoais que os americanos.

Tanto que logo ganhou o prêmio máximo do Salão de Lucca então no auge do prestígio, o Yellow Kid e o Gran Guinigi, escolhido por um júri internacional.

A então poderosa empresa Cica divulgava o trabalho de Mauricio em desenhos animados na mídia, ao escolher o personagem Jotalhão para interpretar o elefante-símbolo do famoso molho de tomate. Isso colocou a Mônica e o Mauricio como um grande sucesso popular da televisão. Ele já tinha uma pequena infraestrutura, que criou baseada na distribuição dos comics norte-americanos do King, United, NEA e na produção dos estúdios do líder de todos: Walt Disney.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Brasil até teve alguns personagens nacionais de sucesso. Mas, hoje não há uma criança – ou adulto – que não conheça a dentucinha querida de todos. E ela cresceu e passou a viver novas aventuras na revista Turma da Mônica Jovem e até casou (no futuro?), com Cebolinha, seguindo o caminho do clássico Príncipe Valente que cresceu e teve filhos, na saga de Hal Foster.

Certa feita, Jayme Cortez, Mauricio e eu, estávamos no estúdio do maior criador dos comics no mundo, em Nova York. O nosso ídolo, o “Orson Welles dos quadrinhos”, Will Eisner. E o grande artista e empresário de sucesso declarou que Mauricio tinha sido mais esperto que ele: criara um “character” possível de virar boneca, animação, merchandising, etc. E seu “pobre” The Spirit era complicado demais para explorar o licenciamento.