As incríveis aventuras do Cavaleiro Negro

Cavaleiro Negro #1 - Setembro de 1952
A revista do Cavaleiro Negro, publicada a partir de setembro de 1952 pela Rio Gráfica e Editora (atual Editora Globo), foi uma das revistas de faroeste mais longevas já impressas no Brasil. Não podemos esquecer que The Lone Ranger (editado no Brasil pela Ebal com o nome de Zorro) e, claro, Tex, ultrapassaram em quantidade de edições o personagem da RGE. Mas, mesmo assim, a façanha do Cavaleiro Negro foi impressionante: sua revista chegou às bancas por mais de 20 anos e alcançou a marca de 245 números!
Cavaleiro Negro
Como as aventuras do Cavaleiro Negro eram curtas, ele dividia as páginas de sua revista com outros personagens do faroeste, como Ringo Kid, Arizona Raines, Apache Kid, Sierra Smith, Davy Crocket, Kit Carson, Daniel Boone, entre outras “histórias formidáveis de índios e de cowboys”.

Black Rider 1
Lançado em 1948, no segundo número da revista All-Western Winners, The Black Rider foi criado por Syd Shores para a Timely Comics (que, mais tarde, viria a se tornar a gigante Marvel Comics) e a partir do número 8 a revista passou a se chamar simplesmente de Black Rider. Enfim o Cavaleiro Negro ganhava seu próprio título nos Estados Unidos. Mas isso não foi o suficiente para transformá-lo num sucesso e a série de aventuras com o personagem foi cancelada no número 31, em novembro de 1955. Ele nunca conquistou os leitores americanos. Mas era um sucesso absoluto no Brasil.
Cavaleiro Negro #240 - Página 3
Com a série cancelada em seu país de origem, a RGE teve que encontrar uma solução para continuar publicando a revista, que vendia muito bem. O mais lógico seria produzir aqui as novas aventuras do herói mascarado, já que a editora contava com desenhistas do mais alto nível em seu departamento de arte.

Mas, por mais inacreditável que pareça, a “solução” dada foi a seguinte: outros personagens de faroeste passaram a ser “retocados e transformados no Cavaleiro Negro pelos desenhistas do staff interno da Rio Gráfica”. Essa revelação consta em texto não assinado – provavelmente de autoria de Otacilio D’Assunção – publicado na revista Gibi de Ouro – Os Clássicos dos Quadrinhos – Cavaleiro Negro, lançada em 1985 pela RGE. E isso quer dizer exatamente o que você, leitor, entendeu: através de retoques nos desenhos originais, o Cavaleiro Negro era colocado no lugar do herói de outras histórias de faroeste!
Cavaleiro Negro #240 - Deus do mal
Mas essa falta de respeito com os quadrinhos, os desenhistas e os leitores, durou algum tempo até que, finalmente, a direção da RGE tomou juízo e as aventuras do personagem passaram a ser produzidas no Brasil. Assim, o Cavaleiro Negro ganhou os traços de mestres como Gutemberg (a capa da edição 106, reproduzida abaixo foi desenhada por ele), Walmir, Milton Sardella, Juarez Odilon, entre outros. Mesmo assim, de vez em quando, aventuras de outros caubóis menos importantes continuavam a ser retocadas e transformadas em histórias do caubói mascarado.
Cavaleiro Negro #106 - Capa de Gutemberg
O grande desenhista Gutemberg Monteiro, que fez sua carreira nos Estados Unidos, desenhou diversas histórias do Cavaleiro Negro, como estas páginas reproduzidas abaixo e que fazem parte da história “Balas Marcadas”, publicada na revista do Cavaleiro Negro #113.
Cavaleiro Negro #113, por Gutemberg
Cavaleiro Negro #113, por Gutemberg - página 17
Cavaleiro Negro - quadrinho na página 18, por Gutember.
Muitos desenhistas de talento também produziram histórias de Black Rider nos Estados Unidos. Curiosamente, Jack Kirby foi um deles. Provavelmente a página e o quadrinho que reproduzimos abaixo são trabalhos de Kirby. Pena que a aventura “A luva negra!” não veio creditada.
Cavaleiro Negro #240 - página 20
Cavaleiro Negro #240 - p24
Finalmente, em 1972, a revista do Cavaleiro Negro também estava prestes a ser cancelada pela RGE por absoluta falta de material. Assim, o então diretor de arte, Primaggio Mantovi, decidiu transformar as histórias de Gringo – um personagem de faroeste produzido na Espanha – em aventuras do Cavaleiro Negro, voltando a usar novamente a execrável solução de retocar o personagem. A culpa obviamente não era dele, já que a direção da RGE não lhe dava condições de produção de novas histórias. Mas essa curiosa história será contada em outra postagem.

Abaixo três reproduções de capas da revista Black Rider, publicadas no início da década de 50 nos Estados Unidos.

Quem é Márcio Moura, o repórter?

22-2000 Cidade Aberta #1
Se você acha que Waldomiro Pena (de Plantão de Polícia), Pedro e Bino (de Carga Pesada) são alguns dos primeiros heróis de seriados de tv nacionais produzidos pela Rede Globo, está enganado. Bem antes, no longínquo ano de 1965, estreava no mês de maio na tela da Globo a série nacional 22-2000 – Cidade Aberta, estrelada por Jardel Filho, na pele do intrépido repórter Márcio Moura, e Claudio Cavalcanti, como o jovem Carlinhos, “foca” na Redação e amigo do repórter. Os dois trabalham na editoria de Polícia do jornal O Globo e tentam desvendar casos de crime e mistério para suas reportagens. Isso os coloca frequentemente em perigo. Cada episódio tinha duração de 30 minutos e apresentava uma história completa. Segundo depoimento do ator Claudio Cavalcanti (que pode ser assistido aqui), ele próprio fazia várias cenas de perigo e a série era toda filmada em película, e não em vídeo.
Trinta Moedas
Com o sucesso de 22-2000 – Cidade Aberta, a Rio Gráfica e Editora lançou, em 1966, a adaptação dessa série para os quadrinhos. Era uma revista bimestral impressa em preto e branco e desenhada por Edmundo Rodrigues. As histórias eram as mesmas exibidas na tv. Assim, o primeiro episódio – Trinta Moedas – foi publicado no número 1 da revista, juntamente com O Rapto de Miss Brasil. Nos números seguintes se manteve esse padrão de duas aventuras por edição. A RGE já havia lançado com grande sucesso outro policial: As Aventuras do Anjo, baseado na rádio-novela de mesmo nome.
Rapto de Miss Brasil
Mas a nova revista em quadrinhos da RGE não durou muito tempo. Foram apenas cinco edições publicadas em menos de um ano. Com o fim da série, em 1966, depois de exibidos 30 episódios, a revista foi cancelada também. Assim, as aventuras do repórter Márcio Moura ficaram na lembrança dos telespectadores e dos leitores da revista.

Para saber mais sobre a série da Globo, visite este link.

Abaixo, a capa da última edição, desenhada por Walmir Amaral.
22-2000 Cidade Aberta #5
Curioso em saber o que significa o número 22-2000, que dá nome ao seriado? Este era o número do telefone do jornal O Globo, na época. Era o número real mesmo!
Márcio Moura e o editor de O Globo
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Pafúncio, um velhinho centenário

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No dia 12 de janeiro de 1913 – portanto, há exatos 100 anos –, era publicada pela primeira vez em diversos jornais norte-americanos a série Bringing Up Father, criada pelo cartunista George McManus. A historieta, distribuída pela  King Features Syndicate, mostrava as aventuras de Jiggs, um simplório imigrante irlandês que ganha uma pequena fortuna apostando em corridas de cavalo e logo tem que tentar mudar hábitos e estilo de vida para se adaptar à alta-sociedade.
Recuperação de imagem: Francisco UchaPublicada na revista Pafúncio, da RGE.
Um boa-vida, Jiggs é casado com Maggie, uma mulher que adora cantar e azucrinar a vida boêmia do marido. Bringing Up Father se tornou um grande sucesso nos Estados Unidos, e logo suas histórias foram adaptadas para o teatro, cinema, desenhos animados e para o rádio. Foi umas das tiras e páginas dominicais de maior longevidade, sendo publicada durante 87 anos, encerrando sua carreira em maio de 2000. Zeke Zekley, assistente de McManus a partir de 1935, colaborou intensamente com roteiros e desenhos até 1954, quando George McManus morreu. A partir daí, a tira ganhou novos desenhistas, escolhidos pela King Features Syndicate.
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No Brasil, os personagens de McManus também se tornaram muito populares e foram batizados como Pafúncio e Marocas. No início dos anos 60, a Rio Gráfica e Editora, de Roberto Marinho, lançou a revista Pafúncio, com periodicidade bimestral.
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O Fantasma de Gutemberg


A capa desta edição da revista Almanaque do Fantasma, publicada pela Rio Gráfica e Editora no início dos anos 70, foi desenhada por Gutemberg Monteiro, grande mestre dos quadrinhos que trabalhou nessa editora durante 20 anos e depois fez carreira nos Estados Unidos, onde trabalhou por mais 40 anos.

Naquele tempo a RGE mantinha um estúdio especializado na produção de histórias em quadrinhos com uma equipe de desenhistas e roteiristas do mais alto nível. Faziam parte dessa turma, nomes como Walmir Amaral, Evaldo, Lutz, Flávio Colin, José Menezes, Primaggio, entre muitos outros talentos, além de, é claro, Gutemberg. Era uma turma muito unida. Tanto que, quando Gutemberg esteve no Brasil de férias no início da década de 90, depois de passar muitos anos nos Estados Unidos, deu ao José Menezes a arte original dessa capa do Fantasma. Na dedicatória Gutemberg o chama de “irmão, amigo e colega”. Não é qualquer um que tem um original desses em seus guardados. Menezes tem. E se orgulha muito dessa amizade de anos!

Abaixo, a arte da capa com a dedicatória de Gutemberg ao amigo Menezes. Clique na imagem para ampliá-la.

O Rocky Lane de Primaggio


O desenhista Primaggio Mantovi é muito conhecido por sua principal criação, o palhaço Sacarrolha. Mas o primeiro personagem que ele desenhou foi um cowboy de filme B americano do qual era um grande fã quando criança: Rocky Lane. Sobre essa experiência, ele me falou ao telefone: “Foi muito bom. As histórias em quadrinhos de Rocky Lane tinham parado nos Estados Unidos mas, como vendia bem, decidiram continuar a publicar no Brasil. De repente eu estava desenhando meu cowboy preferido e ainda era pago por isso! Cheguei a criar e desenhar uma história contando a origem dele, coisa inédita nos Estados Unidos!”.

Acima vemos um desenho colorido que Primaggio fez e nunca foi publicado. É uma pintura de seu acervo que o próprio desenhista nos enviou para que pudéssemos compartilhar com nossos leitores. Abaixo, vemos um desenho do cowboy Rocky Lane extraído da primeira página da história A Seita dos Vingadores, que Primaggio também nos enviou. Para ver essa página completa, exatamente como ela foi publicada, CLIQUE NESTE LINK.

Primaggio entrou na Rio Gráfica em 1964 e no ano seguinte passou a desenhar Rocky Lane todo o mês. Depois desenhou também o Recruta Zero (Beetle Bailey) e, mais tarde, na Editora Abril fez histórias dos personagens Disney e de outros personagens infantis, como Pantera Cor-de-Rosa e Moranguinho. (Clique nas imagens para ampliá-las)