A Ebal do jornalista Adolfo Aizen

Editora Brasil-América LtdaImagine uma época muito mais inocente do que a atual. Imagine um país recentemente saído de uma ditadura das mais cruéis, cujo governante as pessoas fariam voltar ao poder, algum tempo depois, pelo voto direto. Imagine uma nação saída de uma época de racionamentos feitos em nome de uma guerra em que foi coagida a combater.
Uma época sem televisão, em que futebol se via no estádio ou se ouvia pelo rádio, onde também habitavam os artistas favoritos e muitas vezes os heróis mais queridos.
Imagine uma época em que crianças podiam brincar nas ruas das grandes cidades sem nenhum receio maior do que ter um joelho esfolado. Um tempo em que, ao entrar num cinema, uma entrada lhe dava direito a assistir a um desenho, um noticiário, um episódio de um seriado de aventuras e, por fim, o filme principal.
Imagine uma época em que o maior “crack da pelota” tinha o apelido de “Diamante Negro” (aliás, o chocolate tem esse nome por causa dele, o centroavante Leônidas da Silva); a maior cantora, Carmen Miranda, era “A Pequena Notável”; uma cidade como São Paulo era chamada de “Terra da Garoa”; e o presidente era “O Primeiro Mandatário da Nação”.
Suplemento JuvenilSó mesmo imaginando um país assim, numa época tão distante, você entenderá por que aquela nova editora que surgia no Rio de Janeiro logo ganhou o apelido de “O Reino Encantado das Histórias em Quadrinhos”.

Com estes parágrafos acima, publicados no excelente site Universo HQ, Toni Rodrigues inicia uma bela homenagem a uma das mais simpáticas editoras que já existiram no país: a Editora Brasil-América Ltda, ou simplesmente Ebal. Hoje, a casa publicadora de Adolfo Aizen estaria fazendo 62 anos, mas o texto foi publicado há dois anos, com o título de Ebal 60 anos: uma celebração.

O Judoka, um herói brasileiroLeia e descubra várias pequenas curiosidades sobre suas publicações. Saiba que um dia Lois Lane, a namorada do Super-Homem, foi chamada de Míriam; que Aquaman era o Homem-Submarino, e que a hoje famosa Mulher-Maravilha era Miss América, num óbvio contraponto feminino ao Capitão América (afinal eles são o casal mais bandeira dos quadrinhos). Heróis como Elektron e Gavião Negro foram batizados pela editora e ainda hoje são assim conhecidos. O autor não esquece dos quadrinhos nacionais (como O Judoka, que um dia foi parar no cinema) e, claro, da chegada da Marvel à editora (e ao Brasil). Ao mesmo tempo em que você lê o artigo do Toni, ainda pode matar as saudades das publicações da editora (ou conhecê-las), pois o texto é ilustrado com diversas capas inesquecíveis.

Quadrinhos - Os JusticeirosMas se você quer ver mais capas digitalizadas da Ebal, não deixe de visitar a área reservada à editora no site GibiHouse. Nessa página há sete links. Cada um deles leva a um grupo de revistas onde são encontradas imagens em ótima resolução da maioria das revistas publicadas pela empresa. É uma viagem visual pela história da Ebal.

O texto do Toni foi dividido em duas partes. A primeira parte pode ser lida clicando-se aqui. A segunda parte está aqui. Há também três galerias com imagens de capas de revistas que podem ser visitadas a partir dos links publicados no final do texto.

Aproveite sua visita ao Universo HQ e leia a resenha escrita por Sidney Gusman sobre o livro A Guerra dos Gibis, de Gonçalo Júnior, publicado pela Companhia das Letras. Esse livro é imperdível para quem se interessa pela história dos quadrinhos no Brasil (mas é bom saber que Adolfo Aizen detestava o termo “gibi”, que era marca de seu concorrente).

Se você gosta de wallpapers, conheça alguns que fiz a partir de imagens que digitalizei nas revistas da Ebal, clicando aqui. Leia também o que foi publicado sobre a Ebal neste blog clicando aqui (ou no menu ao lado).

Uma homenagem a Monteiro Filho

Leia o belo texto abaixo, publicado em janeiro de 1971 na revista O Judoka nº22, da Ebal, sobre o Suplemento Juvenil e o I Congresso Internacional de Histórias em Quadrinhos que aconteceu no Museu de Arte de São Paulo (MASP) em novembro de 1970. O texto acaba sendo uma pequena homenagem ao grande desenhista Monteiro Filho:

Adolfo Aizen no Congresso de Quadrinhos
Logo do Congresso de Histórias-em-Quadrinhos“Os siderados, os conhecedores, os estudiosos das histórias-em-quadrinhos, sediaram a época em que apareceu o Suplemento Juvenil, no Rio, como a Época de Ouro – 1934-1940. E foi assim que apareceu no grande cartaz da Exposição do Museu de Arte de São Paulo, quando da realização do Congresso Internacional de Histórias-em-Quadrinhos. O homem a quem se deve essa Época de Ouro, atual Diretor da Editora Brasil-América, aqui aparece em frente ao painel, revendo os nomes dos seus colaboradores daquele tempo: J.Carlos, Carlos A. Thiré, Francisco Aquarone, Israel Ferreira, Luís Sá, Renato Silva, Rodolfo Iltscke, Sigismundo Walpetéris, Solón Botelho, Théo, Monteiro Filho e quantos outros! De todos, Monteiro Filho até agora continua conosco, cada vez melhor, cada vez mais amigo, cada vez mais trabalhador. Felizes os homens de empresa que têm um Monteiro Filho ao seu lado! E o Diretor da Ebal é um homem feliz.”

Clique na foto acima para ampliá-la

O Congresso de quadrinhos de 1970

I Congresso Internacional de Histórias em QuadrinhosO I Congresso Internacional de Histórias em Quadrinhos que aconteceu no Museu de Arte de São Paulo (MASP) em novembro de 1970 – ou seja, há quase 36 anos –, foi um verdadeiro marco histórico. Em fevereiro do ano seguinte, algumas revistas da Ebal trouxeram fotos e textos sobre o evento. A seguir reproduzo o que foi publicado na seção Notícias em Quadrinhos das revistas A Maior, nº 9 (que publicava as aventuras de Thor, Capitão América e Homem de Ferro) e O Demolidor, nº 23. Repare na qualidade dos textos (clique nas fotos para ampliá-las):

• Uma vista geral da Exposição Internacional de Histórias-em-Quadrinhos, realizada no Museu de Arte de São Paulo. É a parte inicial, que se refere a O Tico-Tico, até 1933. Milhares de pessoas visitaram a mostra.
Exposição Internacional de Quadrinhos
(NR: Se repararmos bem na foto acima, veremos o super-herói brasileiro Raio Negro e a onomatopéia básica do Fradim).
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• A época de Ouro, que vai de 1934 a 1940, é a do Suplemento Juvenil. Na foto, um pouco desfocada, vêm-se Adolfo Aizen (o responsável por essa época) e Paulo Adolfo Aizen, seu filho, um dos dirigentes da Ebal, atualmente.
Adolfo e Paulo Adolfo Aizen

• Em frente a um painel do primeiro desenho de uma história-em-quadrinhos, em estilo atual — Os Exploradores da Atlântida ou As Aventuras de Roberto Sorocaba, de autoria de Monteiro Filho — o Diretor da Editora Brasil-América relembra quando esse desenho foi publicado em 1934 e o sucesso que causou nos meios juvenis.
Clique na foto para ampliá-la

• A par do Congresso Internacional de Histórias-em-Quadrinhos (São Paulo, novembro de 1970), houve jantares, oferecidos pelos casais Klabin Segall e Manoel Victor Filho, ambos principescos. No último dia do congresso, porém, o casal Pietro Maria e Lina Bo Bardi convidou todos os participantes para uma feijoada em sua mansão no Morumbi. Aí temos um flagrante, onde, entre outros, aparecem Caude Moliterni, Robert Gigi, Phillippe Druillet, Jayme Cortez e Álvaro de Moya. A feijoada, completa e complementada com um delicioso caju-amigo, ficará inesquecível entre todos os participantes do Congresso Internacional de Histórias-em-Quadrinhos.
Clique na foto para ampliá-la

Mais duas fotos do “Álbum de Família”

Com estas duas, encerro a publicação da série de fotos que selecionei na página Álbum de Família da Edição Comemorativa do Cinqüentenário de Publicação do Suplemento Infantil de A Nação:
Adolfo Aizen, Austregésilo de Athayde e Josué Montell
Adolfo Aizen, Austregésilo de Athayde e Josué Montello

Aizen é premiado na Academia Brasileira de Letras. Eis a legenda publicada:
A Medalha Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras é entregue a Adolfo Aizen pelo presidente daquela instituição, Dr. Austregésilo de Athayde. Ao lado, o acadêmico Josué Montello.
Clique aqui para ampliar a foto.

Adolfo Aizen e Monteiro Filho
Com Monteiro Filho, em 1984

Aizen aparece ao lado do grande desenhista Monteiro Filho, nesta foto de 1984. A legenda publicada na página Álbum de Família é a seguinte:
15 dias antes da impressão desta Edição Comemorativa do Cinquentenário, Adolfo Aizen e A. Monteiro Filho são fotografados, no museu de HQ da Ebal, por Ywaltair de Barros Muniz (35 anos trabalhando na Editora Brasil-América).
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Adolfo Aizen e Herbert Moses

O grande jornalista Herbert Moses, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), aparece na foto publicada na página “Álbum de Família” da Edição Comemorativa do Cinqüentenário de Publicação do Suplemento Infantil do jornal carioca A Nação, ao lado de Adolfo Aizen, num jantar oferecido ao futuro criador do Suplemento Juvenil.Herbert Moses presente ao jantar em homenagem a Adolfo Aizen
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Na legenda, lê-se o seguinte:
Jantar oferecido a Adolfo Aizen, pelos seus amigos, no Bar das Flores, em agosto de 1933. Razão: escolha do seu nome pelo Comitê de Imprensa do Touring Club do Brasil, para uma viagem aos Estados Unidos, representando os jornais e revistas do País. Sentados, da esquerda para a direita: Harold Daltro, Hildebrando de Lima, Povina Cavalcanti, Herbert Moses, Adolfo Aizen (o homenageado), Afonso Costa, Berilo Neves, Ribeiro Couto, Paulo Magalhães. De pé, na mesma ordem: Abellard Filho, Amorim Neto, R. Magalhães Júnior, Márcio Reis e Walter Bellucci.

Uma vida dedicada aos quadrinhos

A foto abaixo foi publicada na página “Álbum de Família” da Edição Comemorativa do Cinqüentenário de Publicação do Suplemento Infantil, do jornal A Nação, transformado em Suplemento Juvenil a partir do número 15. Textos escritos por Solon Leontsinis, Naumim Aizen e Otacílio d’Assunção Barros, o Ota do Mad.

Adolfo Aizen e seu prêmio Yellow Kid, ao lado de Jayme Cortez

Clique AQUI para fazer o download da foto acima em tamanho grande.

Na legenda da foto lê-se:
Em 1975, o 11º Salão Internacional de Lucca, Itália, concede o Prêmio Yellow Kid Especial, “Uma Vida Dedicada aos Quadrinhos”, a Adolfo Aizen. Recebido em seu nome pelo ilustrador Jayme Cortez, este o entrega a A. A. durante festa realizada na sede da Editora Brasil-América (EBAL).

Mais links: Jayme Cortez e Ebal na Wikipédia. Adolfo Aizen no site Gibindex.

Vae acabar o mundo

Primeiro quadrinho de Flash Gordon no Planeta Mongo, de Alex Raymond

A primeira aventura do segundo herói espacial das histórias em quadrinhos*, Flash Gordon no Planeta Mongo, de Alex Raymond, foi lançada no Brasil através do trabalho pioneiro do jornalista Adolfo Aizen que publicou a série a partir do terceiro número do Suplemento Infantil (que mais tarde passaria a se chamar Suplemento Juvenil), em 28 de março de 1934, portanto 80 dias após a sua publicação nos Estados Unidos. Isso foi um grande feito para os padrões da época. Os leitores brasileiros tiveram a oportunidade de conhecer um dos maiores personagens da era de ouro dos quadrinhos antes de países como a França e a Inglaterra.

Podemos dizer que foi graças a esse personagem que a saga multimilionária de George Lucas – Guerra nas Estrelas – chegou às telas de cinema. É que o diretor, que sempre foi fã de Flash Gordon, queria filmar as aventuras espaciais do herói, mas o produtor Dino de Laurentis, que na época detinha os direitos do personagem para cinema, não topou. Frustrado, mas não derrotado, Lucas criou sua própria saga e inesquecíveis personagens, como Luke Skywalker, Hans Solo e Princesa Leia.
(Para ir à página de Guerra nas Estrelas no site Adoro Cinema, clique no link)

* O primeiro herói espacial foi Buck Rogers…