O primeiro herói aventureiro dos quadrinhos!


Yellow Kid, Little Nemo, Mutt & Jeff, Krazy Kat, Sobrinhos do Capitão, Gato Félix, Pafúncio e muitos outros. Assim eram os personagens das pioneiras histórias em quadrinhos: satíricos, engraçados, críticos. Todos os especialistas concordam, no entanto, que Tarzan e Buck Rogers surgem como os dois primeiros personagens dos quadrinhos que rompem com o humor típico das historietas publicadas até então. Certo? Errado!!! Muito antes desses dois lendários personagens, cujas tiras começaram a ser publicadas, coincidentemente, no dia 7 de janeiro de 1929 nos Estados Unidos, surgiu um personagem que se aventurava pelo interior do Brasil, enfrentando onças, índios, macacos e muitos perigos. Seu nome: Zé Caipora! Isso mesmo, As Aventuras de Zé Caipora começou a ser publicado em 27 de janeiro de 1883! São 46 anos de diferença e pioneirismo!

Criado por Angelo Agostini, nosso herói não usa uniforme e nem tem porte atlético, mas tem coragem, sorte e muita capacidade de se meter em problemas pelas selvas do Brasil do século 19. No detalhe acima, Zé Caipora foi preso por uma tribo e uma personagem aparece para salvá-lo! É a índia Inaiá, que mais tarde será salva pelo destemido Caipora. O índio da imagem em destaque no alto se chama Cham-Kam e também se junta à dupla enfrentando perigos em muitos capítulos que começaram a ser publicados na Revistas Illustrada. Como na seqüência da página abaixo, quando Cham-Kam descobre que Inaiá cai à beira de um precipício e precisa ajudá-la rapidamente. Saiba mais sobre Zé Caipora e veja outras páginas de suas aventuras lendo este texto.
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O PAI DOS QUADRINHOS NO BRASIL
O criador de As Aventuras de Zé Caipora, Angelo Agostini é considerado o pai das histórias em quadrinhos no Brasil. Jornalista , editor, desenhista, ele foi o o principal artista gráfico de sua época. Nascido na Itália, em Piemonte, no dia 8 de abril de 1843, Agostini passou parte da infância e adolescência em Paris, onde estudou na Escola de Belas-Artes e teve a oportunidade de conhecer o sucesso da imprensa ilustrada francesa em seu auge. Ao chegar ao Rio de Janeiro em 1859, apaixonou-se pelo País e logo decidiu fincar raízes aqui e não retornar à Europa. No ano seguinte mudou-se para São Paulo e logo fundou, com outros jornalistas, o Diabo Coxo, uma pequena publicação com veia humorística que passou a circular semanalmente com apenas oito páginas, sendo que quatro delas traziam ilustrações do artista.

Para conhecer a fascinante história desse italiano ilustre que se tornou brasileiro, a melhor indicação é o livro Angelo Agostini – A Imprensa Ilustrada da Corte à Capital Federal, 1864-1910, de Gilberto Maringoni (Devir, 256 páginas). Também exímio ilustrador e quadrinista, Maringoni foi chargista de O Estado de S. Paulo entre 1989 e 1996, publicou quadrinhos no Brasil e no exterior, entre os quais o elogiado álbum Tocaia, lançado pela Devir em 2009.

Não foi um trabalho simples descobrir quem foi Angelo Agostini. “Eu tinha idéia de escrever uma biografia”, lembra Maringoni. “Mas esbarrei num fato curioso: apesar de ter publicado intensamente durante quase 40 anos, poucos são os registros sobre como era Agostini, seus hábitos, sua vida pessoal etc. Os poucos contemporâneos que a ele se referem o elogiam tanto que o material mais encobre do que revela a personalidade do artista. Assim tive de fazer uma biografia analítica, isto é, mesclar o pouco do que se sabe de sua vida com os registros deixados por ele nas cerca de 3.200 páginas que ilustrou e em outras tantas que escreveu, entre 1864 e 1907”.

Em seu livro Maringoni consegue retratar o artista e sua época de forma empolgante. Um a obra obrigatória para entender os primórdios do jornalismo, da caricatura e dos quadrinhos no Brasil.

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